quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ficção - parte 02

"Suspenso em algum lugar entre o espaço e o tempo"
Havia lido esta frase e me encontrado nela. Na exata localização descrita.
Suspensa entre o tempo e o espaço.
Engraçado como as coisas são.
Lembrei-me outro dia da sensação de quando te conheci.
Senti que iria doer.
Todas as minhas memórias ilusórias eram acompanhadas de sumiços,
lágrimas, recomeços e um inevitável adeus.
Talvez se eu tivesse ouvido minha intuição, teria evitado este desastre.
Desastre?
Volto a pensar sobre.
Não sei se esta seria a palavra correta.
Vale lembrar das boas inspirações que me renderam essa fatídica história.
Me perguntaram, certa vez, o que eu fazia quando me acontecia uma crise criativa.
Não quis responder.
Era difícil me mostrar sensível e perdidamente apaixonada.
O que aconteceria se eu dissesse a verdade?
Se eu assumisse que minha receita era você?
Sempre foi muito simples.
Era pensar em você e voltar a escrever coisas lindas.
Mania minha esta de materializar inspirações.
Sempre colecionei amores possíveis.
Foi a maneira que encontrei de fazer pulsar o coração.
E escrever poesias.

Quanto pensar cabe num curto espaço de tempo.
Quanto pesar cabe num lugar tão vazio.

Quantos adeus cabem em uma vida?



(ficção parte 01 está aqui https://osassaricando.blogspot.com.br/2016/02/ficcao.html)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Sobre o desejo

Ando pensado muito sobre o desejo.
Acho que quando não se tem muito o que fazer, a gente acaba pensando mais sobre as coisas.
Reflexão, coisa e tal.
Eu gosto muito de estudar as relações humanas.
Ali, olho no olho; na fala; na ação.
Fico observando como elas se dão, como se desenvolvem.
- Como vivem? Do que se alimentam? –
E comecei a achar que essa coisa de relações duradouras são relativas.
E acho também que já escreveram muito sobre isso. Mas não estou querendo inventar a roda.

Falam muito sobre o segredo de um casamento feliz, duradouro, eterno.
Eu não sei se tem a ver com o meu problema com o “para sempre”, que me causa medo.
Mas começo a achar que relacionamentos saudáveis – seja afetivo ou de trabalho – tem a ver com desejo, não com o tempo que duram.
Desejo não é tesão.
Tesão é efêmero demais. É abrangente demais. É fácil demais.
O desejo é aquele outro negócio.
A gente pode até confundir com tesão. (e acho até que a gente confunde muito)
Mas o desejo tá um pouco mais pra cima dessa parede que o tesão faz a gente escalar.

Ele não é saciável facilmente, tampouco começa do nada.
Desejo está perto de algo que faz a gente ir um pouco mais fundo.
O tesão mantém relações afetivas entre casais.
O desejo torna as relações prazerosas e marcantes.
A gente precisa desejar o outro.
Não só ter tesão pelo corpo, pela fala ou pelo jeito que o outro te pega.
Relacionamentos sem desejo são conformistas.
E acabam quando um dos dois começa a desejar algo de verdade.
Não é que não deu certo.
Não deu para continuar ali no morno. No tesão ocasional. Na piada batida. Na rotina.

Desejo é o que move o mundo.
Se desejamos fazer uma grande viagem, trabalhamos mais.
Se desejamos ser aprovados em algo, estudamos muito.
Se desejamos obter sucesso, batalhamos.
Sem desejo a gente não sai da cama.
A gente não enfrenta fila, nem ônibus lotado.
Sem desejo a gente não vai pra frente, nem pra trás.
Ficamos estagnados. Vazios. E tristes.

Acho que a gente ta precisando desejar mais.
Querer mais. Querer muito.
Tesão por tesão a gente sente até assistindo filme ruim.
E olha que não são poucos...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Ficção

Chovia forte.
Como de costume, eu me sentava na cadeira reformada em frente a porta da sacada para ver as gotas escorrerem pelo vidro.
Não me recordo um dia que tenha chovido e eu não tenha feito o mesmo ritual.
Ora com uma xícara de chá na mão, ora com um livro que eu havia interrompido a leitura só para observar aquela obra.
Era um misto de prazer e necessidade.
Naquele dia, a chuva estava forte.
Havia, além da beleza do escorrer de gotas pelo vidro, barulho.
Talvez soasse como música.
Se pensarmos que barulho é algo que incomoda, classificaria aquilo, então, como canção.
As gotas batiam forte em mim.
Era a sensação que eu tinha.
As gotas batiam em mim como se não houvesse porta, nem vidro.
Eu estava vazia.
Totalmente oca por dentro.
Nada ali se ouvia ou sentia.
De alguma maneira, as gotas de chuva me preenchiam e começavam a me inundar.
Me afoguei em mim mesma.
Perdi o ar.
Minha visão ficou turva.
A xícara caiu da minha mão e despertei com o barulho.
Alcancei a superfície e voltei a respirar.
A chuva havia parado.
A luz da lua iluminava deficientemente as plantas do jardim vertical.
Ouvia novamente o barulho dos carros, das buzinas e do tumulto na minha cabeça.
Mas precisava limpar o chão.
Limpar a alma.
Limpar a bagunça que haviam deixado em mim.


Que bom seria se a chuva me lavasse por dentro também.