terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Dias

Os meus dias são pontuados pela quantidade de tempo que falta para o salário cair.
Em quanto tempo meu cartão vai virar.
E se meu pacote de dados vai durar até a próxima renovação.
Podia ser triste.
Mas é só mecânico.
Ou talvez seja triste e eu prefira entender que não.
O tempo ser contado por questões práticas e burocráticas.
E as contas?
Só dia 20.
Menos o telefone, que é dia 25.
É bom quando se pode contar o tempo por outro tipo de espera.
A espera de saber quando você chega, por exemplo.
Quando você volta de viagem.
Quando a gente vai se encontrar pela primeira vez.
Ou pela última.
Seria bom contar o tempo pela quantidade de horas seguidas que estamos juntos.
Pelas garrafas de cerveja acumuladas no lixo depois de um jantar com amigos.
Ou pelas horas que poderemos dormir sem se preocupar com o despertador.
Se dar conta de quanto tempo já estamos juntos.
Sem que isso seja pesado ou leve demais.
Saber que o tempo foi preenchido.
Que os dias não passaram em branco.
Que as horas não foram vãs.
E que todo o momento foi único e concreto.
Existiram além de fotos e palavras.
Foram eternizados dentro da gente.
De maneira que o tempo não possa ser contado.
E os meus dias sejam pontuados por sensações.